Injeção, hospital, exame de sangue… Muita gente treme só de lembrar. Diante de uma agulha, então, surge o medo. Se esse tipo de reação ultrapassa os limites e impede de cuidar direito da saúde, então é uma forma de fobia. E toda fobia merece atenção.
"Sangue!” O tom aterrador da minha mãe e a parede manchada de vermelho são as lembranças mais nítidas da cena que protagonizei aos 3 anos. Eu tinha rolado escada abaixo segurando um copo de vidro. O corte rompeu o tendão do dedo mindinho, exigiu cirurgias e fisioterapia. Mas isso não foi nada perto do impacto psicológico. Mais de 20 anos depois, eu ainda dormia mal na véspera de fazer algum procedimento médico e, na hora agá, o coração saltava pela boca. Não podia ver sangue nem sequer no cinema: fechava os olhos. “Metade da tendência de desenvolver esse tipo de fobia é genética, mas enxergar o temor de pessoas da família na infância ou até mesmo vivenciar um evento traumático quando criança pode servir de estopim”, explica a psiquiatra Carolina Blaya, do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. “Em média, 4% dos indivíduos sentem algo muito ruim diante de um ferimento ou até mesmo da necessidade de ir ao médico ou tomar uma injeção.”
Esse medo se manifesta, primeiro, como mal-estar físico, incluindo tonturas e desmaios (veja quadro à direita). “E, depois de uma experiência dessas, o sujeito pode passar a evitar clínicas, laboratórios e até cadeira de dentista. Isso, claro, deixa sua saúde à mercê da própria sorte”, analisa o psicólogo Gustavo D’El Rey, que pesquisa esse tipo de distúrbio em São Paulo. “Não é raro que mulheres com o problema desistam de engravidar só porque temem o parto”, exemplifica.
O psicólogo e especialista em saúde coletiva Romeu Gomes, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, se dedicou a estudar a origem desse comportamento no sexo masculino. “Os homens evitam buscar os serviços médicos principalmente devido ao medo de um diagnóstico negativo”, observa. E, para agravar, a ala masculina é culturalmente criada para demonstrar coragem. Essa cobrança é um fator impeditivo para que procurem auxílio, já que no consultório podem se tornar mais evidentes suas emoções e fragilidades. “Infelizmente, os profissionais de saúde nem sempre estão preparados para lidar com isso”, nota Gomes.
Tem gente que não suporta nem ao menos se lembrar do cheiro de um hospital. “O lugar é associado à expectativa e à dúvida em relação a um procedimento médico e, quando essa pessoa vai lá, sempre sente estresse e ansiedade”, afirma a enfermeira Cristiana Hussne, chefe do Pronto Atendimento do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Em outras palavras, a incerteza e a angústia se referem à possibilidade de sentir dor ou incômodo durante um tratamento. Já a aflição ao ver sangue estaria ligada a um sentimento de ameaça à integridade física e a pensamentos de morte. O importante é estar ciente e procurar ajuda quando esse tipo de raciocínio é paralisante.
O FANTASMA DO JALECO BRANCO
O médico infla o aparelho para aferir a pressão arterial e o monitor acusa que ela está nas alturas. Sentença de hipertensão? Não necessariamente. É possível que o único mal do paciente seja a chamada síndrome do jaleco branco, condição em que a alteração só aparece na presença de um profissional de saúde. “A expectativa do diagnóstico ou a tensão provocada pela própria figura do especialista induzem a liberação de adrenalina, hormônio do estresse que faz com que a pressão aumente”, esclarece a psiquiatra Vanessa Cítero, da Universidade Federal de São Paulo. Para tirar a prova dos nove sobre o real estado do indivíduo e, assim, medicá-lo adequadamente, o ideal é solicitar um mapeamento de pressão. Trata-se de um exame em que a pessoa exerce suas atividades diárias normais enquanto um equipamento registra sua pressão arterial em intervalos regulares.
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