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segunda-feira, 25 de abril de 2011

Higiene íntima Feminina


Acompanhando a história de popularização do banho, a preocupação com a higiene íntima tomou espaço na rotina da mulher, cuja anatomia requer cuidados específicos. A saúde da região genital reflete no bem-estar e conforto femininos, além de prevenir problemas ginecológicos.

Entretanto, uma pesquisa realizada durante o 15º Congresso Paulista de Obstetrícia e Tecnologia no final de 2010, em São Paulo, demonstrou que ainda há negligência em relação à higiene íntima por parte de médicos e pacientes. 422 especialistas foram entrevistados e a grande maioria declarou que apenas 3% das mulheres atendidas pediram espontaneamente informações sobre o assunto.

Boa parte dos médicos também assumiu só tratar do tema em 20% das consultas, sendo que um pouco mais da metade relataram que só abordam a higiene íntima quando a paciente apresenta alguma queixa relacionada a corrimentos com odor característico.

A urgência em sanar essa deficiência deve-se aos impactos que a vida moderna traz à saúde íntima feminina. A chegada da depilação com cera, calcinhas de lycra e roupas justas e sintéticas são alguns dos elementos que interferem na ventilação da região.

O estresse é um fator psicológico comum no dia a dia das grandes cidades que também pode abalar as defesas do organismo e criar condições para o desenvolvimento de infecções.

Sabonete íntimo no equilíbrio do pH

Umidade da pele, agentes externos e hormonais influenciam a variação do potencial hidrogênico iônico, o pH. Classificado em ácido (1 a 6,9), neutro (7) e alcalino (7,1 a 14), o pH considerado normal para a região íntima é em torno de 5,9. Quanto mais alcalino, mais debilitada a função imunológica da vulva.

Um índice de acidez ruim pode ser resultado de oclusão (quando o órgão íntimo é tapado, por exemplo por uma calça justa), excesso ou falta de higiene e sabões e limpadores inadequados. Paulo Giraldo, ginecologista da Unicamp, explica que, embora os cuidados com a higiene íntima da adolescente se assemelhem ao da mulher adulta, as alterações hormonais durante a adolescência pedem uma atenção especial.

O médico aconselha o uso de sabonetes íntimos adequados para regular o pH genital e fortalecer a capa protetora da intimidade feminina. A Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia publicou um folheto que também recomenda o uso de produtos especialmente formulados para não agredir a pele e mucosas genitais.

Segundo as orientações da instituição, os sabonetes devem ser hipoalergênicos, com pH entre 4,2 e 5,6 e líquidos, pois os sabonetes em barra geralmente são alcalinos e podem causar alergia e coceira.

Os produtos também não podem produzir espuma nem conter substâncias antissépticas, que matam os germes naturais da pele. Nunca utilize sabonete íntimo na parte interna da região genital, muito menos para tratar infecções e inflamações. Procure o seu ginecologista para saber qual o produto mais indicado.


Por Vanessa Macedo

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Apêndice: Rua sem saída


Essa comparação cai como uma luva para o órgão, um tubo aparentemente sem função que se situa no começo do intestino grosso. Mas, quando ele se torna refém de uma inflamação, a única solução é extirpá-lo.

Imagine-se comprando um carro zero. O vendedor oferece mais um acessório. Você, atento, pergunta a ele qual seria sua utilidade. “Serve para dar defeito”, responderia um lunático a fim de perder o emprego. Nenhum comprador em sã consciência levaria o veículo, mas, quando se trata da montagem do nosso corpo, não há escolha. A gente já sai de fábrica, por assim dizer, com um adicional que, em algum momento da vida, pode ser alvo de uma infecção capaz de provocar uma dor de lascar. Trata-se do apêndice. “E ele só serve para dar apendicite”, afi rma categórico o gastroenterologista Rogério Toledo Júnior, da Federação Brasileira de Gastroenterologia.

Localizado no início do intestino grosso, o apêndice não está na rota do processo digestivo. Mas, quando alguma coisa perde o rumo, entra e não consegue sair dali, começam os problemas. “Cerca de 60% dos casos de apendicite são provocados por fecalitos”, explica Gustavo Ribeiro de Oliveira, cirurgião gastrointestinal da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, no interior paulista. E um fecalito nada mais é que uma porção endurecida de fezes, do tamanho de um feijão, que bloqueia o trânsito no anexo intestinal aparentemente sem função.

Aí, para complicar o quadro, um processo inflamatório na área estimula a produção de folículos linfáticos, armas disparadas pelas defesas do corpo que contribuem para fechar de vez qualquer saída dali. Entupido, o pequeno órgão com formato de minhoca, que costuma ter até 1 centímetro de espessura e de 5 a 10 centímetros de comprimento, começa a inchar e a juntar pus (veja o infográfico nos complementos desta matéria). Uma dor na região do abdômen surge e aumenta a cada instante. Se nada for feito, o apêndice poderá necrosar, romper-se e espalhar seu conteúdo purulento por toda a cavidade abdominal — uma situação gravíssima capaz até de levar à morte. É por isso que a doença, que acomete 8% da população, deve ser tratada de imediato. Quanto antes for feito o diagnóstico, menores serão os riscos de complicações.

Os sintomas da apendicite podem ser confundidos com os de outras doenças, especialmente nas mulheres. Nelas, dores no lado direito do corpo muitas vezes indicam um cisto no ovário que se rompeu ou uma infecção nas trompas. Por isso, além do relato do paciente, os especialistas diagnosticam a amolação por meio de um exame físico. Em caso de dúvida, recorre-se ao auxílio de exames de sangue, ultrassonografia, tomografia computadorizada e até mesmo ressonância magnética.

Por Alexandre Gajardoni

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Ai, deu cãibra




Quem já teve cãibra sabe como dói. O músculo repuxa e parece que vai arrebentar. Mas ninguém precisa passar por essa chateação. Saiba o que fazer para sua batata da perna não assar.

Súbita e sorrateira, ela surge quando menos se espera. Na calada da noite, embaixo dos lençóis. No domingo ensolarado, dentro da piscina do clube. Ou no futebol de terça, depois daquele pique pela direita. Quem já teve sabe... É uma dor paralisante, que pode durar de alguns segundos a vários minutos. Basta uma leve flexão do pé para baixo e... ai! A batata da perna contrai-se parecendo dar um nó. Eis a cãibra se manifestando, para desespero de suas vítimas. Mas o que provoca essa dor súbita? O que fazer para preveni-la? E como se comportar quando ela aparece? 

Os especialistas ainda discutem as causas dessa contração muscular violenta e involuntária. O que existe são algumas pistas importantes para entendê-la. A cãibra geralmente se manifesta na prática de uma atividade física, sobretudo se o esportista estiver, digamos, pouco condicionado — ou mal alimentado. Sim, quando os músculos carecem de condições adequadas para realizar um esforço diferente do habitual, é espasmo na certa. “Quem exagera no tempo ou na intensidade do exercício pode sofrer cãibras por falta de vitaminas e sais minerais, o que leva à fadiga muscular”, explica o educador físico Renato Dutra, supervisor técnico da Run & Fun Assessoria Esportiva, em São Paulo. 

A escassez de oxigênio na circulação também contribui para esse cansaço extremo dos músculos. Quem um dia precisou ser socorrido devido a uma baita repuxada da musculatura já deve ter ouvido falar sobre um tal de ácido lático sem saber que substância é essa. A gente explica: trata-se de uma espécie de lixo orgânico que se acumula nos tecidos musculares quando as células usam a glicose para obter energia. Isso permite ao músculo continuar o esforço sem necessidade de recorrer ao oxigênio proveniente dos pulmões. Mas o excesso de ácido lático deflagra encrencas. “É como se a musculatura ficasse sem ar e com menos espaço para se mover. E isso gera fadiga”, ilustra o fisioterapeuta Robert Velentzas, de São Paulo. “Por isso a respiração correta é tão importante durante o exercício.”

O suor da atividade física é mais um fator que ajuda no desencadeamento de cãibras. “A perda excessiva de sódio pode levar à contração muscular”, diz o fisiologista Turíbio Leite de Barros, da Universidade Federal de São Paulo. Mas o excesso de exercício, sozinho, não é suficiente para explicar o aparecimento dessas contrações famigeradas. No meio esportivo, os especialistas sabem que o xis da questão pode estar no que se bebe — na verdade, no que não se bebe. “A desidratação é decisiva para a ocorrência do problema”, informa Barros. 

E quanto às cãibras noturnas? Segundo o ortopedista Moisés Cohen, chefe do Centro de Traumatologia do Esporte da Unifesp, quem faz muito esforço físico durante o dia pode ter contrações à noite. E quem não faz também — mas, nesse caso, a falta de sódio é o fator crucial. “O suor e a urina em excesso podem provocar a perda desse mineral e de outros elementos. E o organismo utiliza o sódio do músculo quando está sem reservas energéticas”, explica Cohen. “Isso gera uma resposta nervosa que leva a um estresse mecânico e às contrações involuntárias.” Ou seja... cãibras! 

Moisés Cohen acrescenta que diabete, problemas neurológicos e lesões vasculares podem estar por trás de um simples espasmo muscular. “São doenças capazes de favorecer o problema”, informa o especialista. “A insuficiência renal e a hemodiálise também contribuem para a redução da concentração de sódio no sangue e muitas vezes levam a problemas musculares, assim como a carência de outros minerais, como cálcio, magnésio e potássio.” O preparador físico Renato Dutra chama a atenção ainda para a síndrome das pernas inquietas, caracterizada por uma vontade incontrolável de mexer as pernas, principalmente durante o sono — e isso também pode disparar cãibras. 

Não existe um tratamento específico para essas contrações. O melhor a fazer é se condicionar antes de partir para atividades físicas mais exigentes, comer e beber o suficiente para suportar a carga extra do exercício e procurar respirar profunda e coordenadamente durante os treinos. Quem sua mais de uma hora por dia também precisa repor nutrientes. Nessa situação, valem géis de carboidrato e líquidos isotônicos, além de água. “A pessoa que se prepara para a atividade física suporta melhor o esforço e retarda o surgimento de cãibra”, resume o educador físico Renato Dutra. Ou melhor: evita esse suplício e malha em paz


Por Giuliano Agmont















                          

terça-feira, 12 de abril de 2011

Remédio na hora certa


Sincronizar o horário de um medicamento com o relógio do organismo faz toda a diferença para aumentar sua eficácia e diminuir efeitos colaterais. Essa é a proposta da cronofarmacologia, ciência que cuida da agenda biológica.

Mesmo que um especialista acerte na prescrição de uma droga, o tratamento pode ir por água abaixo sem um cronograma bem definido. Por esse motivo, profissionais do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo estão empenhados em estudar e difundir a disciplina que avalia o melhor momento para consumir cada princípio ativo. “As funções orgânicas vivem oscilando conforme o momento do dia. Conhecer suas fases e adequar os medicamentos a elas é importante para melhorar o aproveitamento e reduzir reações adversas”, aprova o fisiologista Luiz Menna-Barreto, da Universidade de São Paulo.

O planejamento precisa levar em conta tanto aspectos da rotina do indivíduo como certas peculiaridades do funcionamento do organismo. “Isso inclui fatores como sono, alimentação, trabalho, ritmo do sistema digestivo e produção de hormônios”, enumera a farmacêutica Amouni Mourad, assessora técnica do CRF.

Segundo ela, a difusão dessas informações é necessária não só para os profissionais como para a sociedade leiga. “Ao recorrer a um remédio de venda livre, como um antitérmico ou um analgésico, vale consultar o farmacêutico para saber em que horário ingeri-lo”, exemplifica.

“Já aos médicos cabe lançar mão de instrumentos como questionários de hábitos e monitores de atividade e temperatura corporais para individualizar o plano terapêutico”, completa Menna-Barreto. A expectativa é que se adotem progressivamente esses novos preceitos na prática clínica e que a bula dos remédios estampe orientações cronofarmacológicas. Quanto ao paciente, seu papel é comunicar ao médico qualquer desconforto e discutir com ele as alternativas para atenuá-lo, cogitando uma mudança de horários, sem desistir do tratamento.

Antes de estabelecer conexões entre os ponteiros do relógio e a ação de substâncias, vale a pena apontar um dos principais marcadores do compasso do organismo: o ciclo sono/vigília. Ele delineia o chamado ritmo circadiano. “Trata-se de um padrão temporal em que as funções orgânicas oscilam. Ele se repete, aproximadamente, a cada 24 horas”, descreve Menna-Barreto. Conhecer essa regularidade ajudará você a entender as razões pelas quais tomar remédio com hora marcada melhora a absorção e a distribuição de medicamentos dos grupos a seguir.

Por Adriana Toledo

sexta-feira, 8 de abril de 2011

ESTRESSE PÓS TRAUMÁTICO


As pessoas que vivem em cidades em que a onda de violência está aumentando, têm que lidar com um problema cada vez mais freqüente, o estado das vítimas após uma situação de agressão. As situações vividas podem ser várias: assaltos, acidentes de trânsito, seqüestros, violência sexual, presenciar uma situação violenta que ocorre com outra pessoa, entre várias outras

Todas estas situações podem ultrapassar o limiar de tolerância de uma pessoa em relação ao que ela experienciou. Assim, para algumas pessoas, a experiência de violência pode ser vivida como traumática, o que significa que a pessoa vive uma intensa reação de estresse na situação, sendo que a reação não se desfaz e a pessoa não retorna ao seu estado psicológico habitual.

Em situações ideais, uma pessoa que se depara com uma situação de agressão, vivencia uma alta intensidade de estresse no momento e logo depois do evento, mas tende a ir voltando ao seu padrão de funcionamento com o passar do tempo. (Selye, 1974, 1976).

Para entender este fenômeno é importante que nós possamos compreender os mecanismos da experiência de violência e os modos como uma pessoa pode viver a agressão durante e depois do evento. Há vários fatores que podem contribuir para que uma pessoa não volte ao seu estado habitual após uma situação de agressão: a idade e o momento em que o evento ocorreu, a intensidade e a duração da experiência, o nível de impotência que a pessoa sentiu, o sentido da experiência na história de vida da pessoa, os sentimentos que a situação despertou, como medo, pavor, raiva, etc.


Os Diferentes Modos de Reagir

Diferentes pessoas não reagem do mesmo modo a uma situação violenta. Quando duas pessoas vivem uma mesma situação de agressão, uma pode ficar traumatizada, enquanto a outra retoma a sua rotina em pouco tempo. Cada pessoa tem uma história singular de agressões e estresses em sua vida, cada uma associa o evento agressivo atual a experiências específicas de seu passado. Uma série de fatores como estes tornam alguém mais vulnerável a determinadas agressões, determinando os limites entre o assimilável e o excessivo.

Por exemplo, durante uma situação de violência, uma pessoa pode se manter fria e sob controle, outra pode entrar em desespero e pânico, enquanto uma terceira pode desmaiar. Três modos diferentes, pessoais, de lidar com a mesma situação de estresse intenso, o que expressa três temperamentos e três histórias de vida diferentes.

Após a situação, cada um poderá viver também de um modo singular os efeitos posteriores. Um pode ficar com medo apenas por alguns dias e depois voltar à vida normal, outro poderá ficar com uma ansiedade muito grande e duradoura e não conseguir voltar à sua rotina, enquanto um terceiro poderá afundar numa profunda depressão decorrente do grande abalo causado pela experiência. Cada um reage de um modo singular às várias situações de agressão que sofre na vida, assim como às eventuais situações de violência intensa.

Os Predisponentes

Apesar de muitas pessoas viverem situações violentas, uma parcela bem menor desenvolve Estresse Pós-traumático. Pesquisas têm apontado que as experiências de relacionamento nos primeiros dois anos de vida exercem um efeito significativo sobre a capacidade posterior de uma pessoa em lidar com o estresse e manejar os seus estados emocionais (Schore, 2001, 2002).

Ao cuidar do seu bebê, uma mãe ajuda a regular os estados internos de seu filho. Por exemplo, a mãe busca acalmar o bebê ao vê-lo muito agitado. A capacidade de auto-regulação emocional ainda não está desenvolvida, e a mãe exerce esta importante função de hetero-regulação até que o bebê possa aprender a se regular por si próprio.

Os traumas relacionados principalmente a experiências de abuso e negligência nesta idade precoce têm um enorme impacto sobre o desenvolvimento da criança e do futuro adulto. Nesta época as áreas cerebrais relacionados à regulação emocional ainda estão se desenvolvendo e os traumas interpessoais precoces podem afetar o desenvolvimento cerebral, tornando uma criança mais vulnerável a uma situação de Estresse Pós-Traumático na vida adulta. Esta área de pesquisas é importante por mostrar como o cérebro se constitui junto com as experiências de vida e não apenas pelo que é dado geneticamente (Schore, 2001). Assim a psicoterapia tem um trabalho valioso ao recuperar a dimensão da experiência vivida como caminho para a transformação da personalidade e do cérebro. A psicoterapia exerce um efeito indireto e remodelador sobre o cérebro no processo de recuperação emocional de um paciente.


Os Sinais e os Sintomas

Podem ocorrer várias manifestações em pessoas que desenvolvem estresse pós-traumático em decorrência de situações violentas.

Durante o evento, por exemplo, a situação pode parecer irreal, tudo parecendo como um sonho ou pesadelo e a pessoa se sentindo anestesiada na situação. Para outras pessoas a vivência pode ser de intenso desespero e dor. A vivência do tempo também pode ficar bastante alterada e o que durou apenas alguns segundos, por exemplo, pode parecer um longo tempo, as coisas podem parecer ocorrer em câmera lenta, tudo ficando muito vívido na percepção.

Logo após o evento, muitas pessoas se mantêm num estado de "anestesia emocional", sentindo-se distantes da situação, diminuindo sua responsividade ao mundo. Com o passar do tempo a pessoa pode ir "descongelando" e viver experiências intensas de impotência e fracasso. Algumas pessoas desenvolvem um estado mais depressivo, com perda de interesses, desânimo, embotamento emocional, estreitamento de horizontes na vida, etc.

Outras pessoas passam a ficar ansiosas, temendo que a situação se repita, desenvolvendo um padrão ansioso de distresse. A pessoa pode se lembrar repetidamente do evento, com as lembranças invadindo a sua consciência, muitas vezes lembranças dos mínimos detalhes. Há também pessoas que não conseguem lembrar nenhuma imagem da situação, ficando apenas com o efeito emocional do que ocorreu, como se tivesse sido algo dolorido demais que faz a pessoa esquecer.

Podem surgir associações entre o evento e situações específicas, levando a comportamentos de evitação, como não sair à noite, não sair de casa sozinho, não freqüentar determinados locais, etc. Intensas reações emocionais podem surgir frente a estímulos que simplesmente lembram a situação vivida, como certos sons, certo clima, certos olhares, etc.

Há possibilidade de se desenvolverem estados mais constantes de ansiedade, de alerta e vigilância, respostas exageradas de sobressalto e apreensão, dificuldade em se concentrar, atitude de desconfiança, etc.

Podem surgir sensações de irrealidade e distanciamento do mundo, fazendo tudo parecer como um sonho, com sensações de estar separado do corpo, etc. Pode haver pesadelos repetidos.

Algumas pessoas ficam mais irritadas, apresentando ataques de raiva e instabilidade emocional.

No geral as reações vão para duas direções básicas: depressão e ansiedade. Há pessoas que vão para estados mais depressivos, pessoas que vão para estados ansiosos e agitados e pessoas que se alternam entre estes dois estados.


Experiência, estresse e distresse

Após uma situação de violência, uma pessoa pode permanecer em estado alterado por períodos variáveis. É classificado como estado de estresse agudo quando a pessoa apresenta sinais intensos de estresse após o evento traumático, mas volta ao seu padrão de funcionamento normal dentro do primeiro mês. Quando as reações persistem por meses e até anos, é classificado como estresse pós-traumático. (Associação Americana de Psiquiatria,1995)

Segundo a classificação proposta por Keleman (1989), quando a reação de estresse vivida numa situação não se desfaz, ela é denominada de distresse. O nome certo de um estado permanente seria, portanto, distresse pós-traumático, porém o uso consagrou o termo estresse pós-traumático.

O estresse (quando desfaz) e o distresse (quando permanece) são respostas a situações de agressão tanto externas - que vem do encontro com o mundo - quanto internas, que decorrem do sentir dentro de si coisas além do assimilável.

Os sentimentos vividos na situação de violência podem ser excessivos e agressivos, ultrapassando o limiar de tolerância e assimilação de uma pessoa. Para alguém, por exemplo, sentir muito medo ou ódio nascendo dentro de si, pode ser extremamente assustador, de modo que a pessoa reage com forte estresse frente aos próprios sentimentos, que a agridem de dentro. Isto além da própria agressão que vem de fora.

Quando sintomas permanecem por um período mais longo, indicam que a agressão foi vivida muito intensamente, com um estado de estresse excessivo que levou à cristalização em um padrão de distresse.

Os padrões de distresse são organizações psicofísicas que mantém a pessoa paralisada num modo de funcionamento, sem poder voltar ao seu modo de vida anterior. (Keleman, 1989)

Por exemplo, uma pessoa que sofreu uma situação de violência, não conseguia mais dormir à noite, ficando alerta e atenta aos barulhos da noite, sentindo medo de que a situação pudesse se repetir. Ela evitava sair de casa, temia os olhares dos outros, temia que o agressor pudesse voltar a qualquer momento, tinha pesadelos com cenas de violência e a desconfiança dominava a sua experiência no mundo. Sua vida ficou bruscamente limitada, num estado de muito sofrimento e exaustão que já durava alguns meses quando ela chegou para o tratamento.

Observando seu corpo pudemos ver que ela estava com o olhar oscilando entre expressões de desconfiança, vigilância e medo, a visão geralmente sem foco, com perda da convergência binocular, a respiração superficial e rápida, o diafragma contraído, a postura puxada para cima, aumentando a pressão na cabeça e no peito.

Há uma relação intrínseca entre o estados somáticos e os estados subjetivos, pois os padrões motores organizam e sustentam como uma pessoa sente e percebe o mundo. (Keleman, 1987).

Há uma organização psicofísica que sustenta a pessoa no estado de distresse, criando a percepção de que o mundo é de um certo modo - no caso, hostil - e produzindo repetições infinitas de pensamentos, fantasias, pesadelos e sentimentos em torno de uma mesma questão, criada e mantida por um padrão alterado de funcionamento. Tanto os sentimentos como a percepção, os pensamentos e a postura corporal são organizados pelo padrão de distresse. Criam a realidade do perigo iminente e deixam a pessoa como se estivesse em vias de reviver a situação a todo o momento. A reação não se desfez, o alerta está lá dizendo que o perigo pode voltar a qualquer momento. A percepção da pessoa tende a interpretar tudo pela ótica do medo, tudo que a pessoa percebe é visto pela perspectiva de seu padrão ansioso de distresse.

O padrão ansioso organizado produz e mantém estados de apreensão, alerta, desconfiança, medo, confusão e pânico. Estes estados podem se alternar e se intensificar em diferentes momentos e situações.
Padrões de distresse são organizações psicofísicas que compõe modos "fixos" e "determinados" de funcionar na vida e que surgem a partir de situações que interferem drasticamente no processo existencial de uma pessoa, nestes casos, as experiências de violência. A partir da situação traumática a pessoa fica fixada e paralisada num modo repetitivo de funcionamento emocional.

O padrão de distresse se organiza através de uma forma no corpo, é uma realidade postural, sustentada pela musculatura e que afeta a motilidade interna das vísceras, o estado emocional, a percepção, os pensamentos, enfim a pessoa inteira fica organizada segundo este padrão. (Keleman, 1985, 1989).

O Tratamento

Cada pessoa em situação de Estresse Pós Traumático necessita de uma atenção cuidadosa, pois suas reações têm relação com a sua história de vida, sua capacidade de lidar com sentimentos e emoções, o impacto que a experiência teve em sua vida e a qualidade de suas experiências de vida dali para frente.

A intervenção terapêutica é um recurso necessário para que a pessoa possa reorganizar seu padrão de funcionamento e continuar seu processo de vida de modo mais saudável.

É possível sentir e ver o mundo diferente, sair da situação de sofrimento constante, através realização de mudanças nos padrões de distresse organizados.

Mediante observação atenta do corpo, do olhar, da postura, da respiração e do modo de se mover, o profissional pode identificar o estado subjetivo interno que esta pessoa pode estar vivendo. Porém tão importante quanto o profissional identificar os sinais exteriores, é ajudar e capacitar a pessoa a perceber o próprio corpo, discriminando com clareza a sua própria experiência e as conexões que há entre a sua vivência subjetiva e o modo como o seu corpo está organizado naquele momento. A partir de um desenvolvimento maior da auto-percepção é possível ensinar a pessoa a interferir em seus padrões de sofrimento somaticamente organizados, através de exercícios específicos, agindo sobre os seus padrões de distresse.

Ajudando a pessoa a perceber suas próprias sensações corporais, sua organização postural e suas atitudes organizadas somaticamente, podemos ajudá-la a perceber como o corpo está totalmente interligado ao que ela sente, vê e pensa, organizado num padrão de distresse. A partir daí podemos ajudar a pessoa a dialogar com a própria experiência através de um método eficiente, conforme proposto por Stanley Keleman (1987).

Na terapia utilizamos técnicas que atuam exatamente nos pontos que estão mantendo a pessoa em estado de distresse. Ensinamos a ela a reconhecer a organização corporal deste padrão, podendo modular, aumentando e diminuindo sua intensidade e permitindo a sua desorganização e reorganização, permitindo à pessoa criar modos mais vitais de lidar com os afetos e as situações de sua vida. Um dos objetivos é ensinar um auto-gerenciamento do estresse que possa servir como habilidade ao longo de toda a vida da pessoa.

A terapia permite restaurar a capacidade de lidar com fortes emoções internas, o que pode ter ficado comprometido desde a primeira infância. Este processo precisa ocorrer num contexto vincular de cuidado e confiança, no qual a pessoa do terapeuta, tal qual uma mãe cuidadosa, primeiro ajuda seu cliente a se acalmar, com a ajuda de técnicas específicas, para então começar a ensiná-lo a manejar melhor seus estados internos e o mundo à sua volta, visando a sua recuperação e o seu desenvolvimento.

Através deste caminho a pessoa pode voltar a viver o seu presente, e não mais ficar paralisada por uma situação que já poderia ter/ser passado.

Bibliografia de Referência
Associação Americana de Psiquiatria (1995). Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais - DSM IV, Porto Alegre, Artes Médicas
Keleman, Stanley (1987/1995) Corporificando a experiência, São Paulo, Summus
___________ (1985/1992) Anatomia Emocional, São Paulo, Summus
___________ (1989/1997) Padrões de Distresse, São Paulo, Summus
Selye, Hans (1974). Stress without Distress. Nova York, NAL
__________ (1976/1978) The Stress of Life, New York, Mc Graw Hill, revised edition.
Schore, Allan N. (2001). The Effects of a Secure Attachment Relationship on Right Brain Development, Affect Regulation, and Infant Mental Health. Infant Mental Health Journal. 22, p 7-66.
__________ (2002). Dysregulation of the Right Brain:
A Fundamental Mechanism of Traumatic Attachment and the
Psychopathogenesis of Posttraumatic Stress Disorder. Australian and New Zealand Journal of Psychiatry, 36, p 9-30.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Você conhece essa tal de vitamina B12?









Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre essa vitamina, mas certamente os vegetarianos a conhecem muito bem. Isso se deve ao fato dela ser o único nutriente encontrado em quantidade significativa apenas nos alimentos de origem animal como nas carnes vermelhas, ovos, leite, fígado e peixes.
A vitamina B12 ou cobalamina, como também é conhecida; exerce importante papel na saúde do organismo, pois possui uma função indispensável na formação do sangue e é necessária para uma boa manutenção do sistema nervoso. Sua deficiência é rara em pessoas que seguem uma alimentação comum, mas em vegetarianos por acontecer e leva a duas grandes complicações: anemia megaloblástica e neuropatia.
Estudos demonstram que os vegetarianos, principalmente veganos, aqueles que não comem nenhum tipo de carne; não ingerem vitamina B12 suficiente e consequentemente apresentam estado nutricional relativo à vitamina abaixo do recomendado. Por isso conheça a importância da nutrição nos vegetarianos.
Qual a necessidade diária de B12?
 Faixa etária Recomendação (mcg)
0 a 6 meses0,4 mcg
7 a 12 meses0,5 mcg 
1 a 3 anos0,9 mcg
4 a 8 anos1,2 mcg
9 a 13 anos1,8 mcg
14 anos ou mais2,4 mcg
Gestação2,6 mcg
Lactação2,8 mcg
  
Quem deve suplementar?

• Todas as pessoas acima de 50 anos¹.
• Crianças vegetarianas.
• Gestantes vegetarianas.
• Mulheres vegetarianas que estão amamentando².
• Vegetarianos que consumam pouco ou nada de laticínios e\ou ovos.
¹Devido ao fato de 10 a 30% de toda a população (vegetariana ou não) acima dos 50 anos apresentar alguma deficiência na absorção.
²Apenas a B12 consumida pela mãe é transferida pelo leite materno, ou seja, mães com estoques adequados de B12, mas que não consomem a vitamina durante o período de amamentação não iram fornecer doses adequadas ao seus filhos.
Como suplementar de forma segura? (converse com seu nutricionista ou médico antes)
• Consumir alimentos fortificados ao longo do dia que no final forneçam 3mcg da vitamina.
• Suplemento oral com 5mcg ao dia.
• Suplemento oral com 2000mcg por semana.
• Suplementação injetável de 5.000 UI por ano (converse com seu médico).
Como Avaliar o estado nutricional relativo a B12?
Converse com seu nutricionista e\ou médico que solicitará os seguintes exames:
• Hemograma.
• B12 sérica.
• Homocisteina.
Você conhece essa tal de vitamina B12?




Por Eduardo Fraccarolli Buriola - Nutricionista

sábado, 2 de abril de 2011

Os TOP 10 exames de check-up para mulheres



Final e começo de ano é a época mais agitada nas clínicas especializadas em exames laboratoriais e diagnósticos por imagem. É grande o número de pessoas acostumadas a terminar ou iniciar o ano seguinte com a saúde em dia. Se você pertence ao grupo de mulheres que aproveitam o começo do ano para descansar e viajar, e só faz exames quando existe algum problema de saúde aparente, está na hora de mudar.

A médica radiologista Maria Thereza Natel, do Centro de Diagnósticos Brasil, lista abaixo os TOP 10 exames de check-up mais importantes para mulheres de faixas etárias variadas:

Exame Papanicolau

Independentemente do histórico sexual da paciente, o exame deve ser realizado regularmente a partir dos 18 anos para prevenção do câncer cervical. Segundo o Inca, este ano devem surgir mais de 18 mil novos casos da doença. Depois dos 30 anos, a maior frequência de miomas e de outras doenças relacionadas ao útero e aos ovários pode levar o médico ginecologista a solicitar também a ultrassonografia transvaginal.

Exame Mamografia



Trata-se de um exame que deve ser realizado anualmente por mulheres acima dos 40 anos. Se houver indicação clínica, pacientes de alto risco, com histórico de câncer de mama na família, podem começar a realizar exames preventivos mesmo antes dos 35 anos.

Exame de glicemia em jejum

Trata-se de um importante exame de sangue que deve ser realizado com a paciente em jejum de pelo menos oito horas. Ao analisar a taxa de açúcar no sangue é possível diagnosticar portadores de diabetes, doença crônica que é tanto melhor administrada quanto mais precocemente diagnosticada. Mulheres com mais de 45 anos - ou antes, se houver histórico da doença na família, com taxas altas de colesterol e triglicérides, obesas, sedentárias e idosas pertencem ao grupo de risco.

Exame de controle da tireóide

Depois dos 30 anos, as mulheres têm três vezes mais chances de desenvolver distúrbios da tireóide, principalmente o hipotireoidismo. Em alguns casos, a paciente começa a notar certa dificuldade em perder peso, queda acentuada de cabelo, enfraquecimento das unhas e maior sonolência. A doença pode ser diagnosticada por um simples exame de sangue em que são realizadas as dosagens dos hormônios tireoidianos T3, T4 e TSH. Entretanto, quando o médico endocrinologista suspeita da presença de nódulos, poderá sugerir a realização de exames complementares, como ultrassonografia, cintilografia ou mesmo uma biópsia.

Exame de densitometria óssea

Depois dos 50 anos, ou ainda mais cedo dependendo do histórico familiar, é recomendável realizar o exame de densitometria óssea a cada dois anos para se prevenir da osteoporose, que é uma doença silenciosa e ainda assim bastante agressiva para com a terceira idade, quando uma fratura pode comprometer totalmente a qualidade de vida da paciente.

Exame colesterol e triglicerídeos


Principalmente depois dos 40 anos, o exame de sangue para checagem das taxas de colesterol e triglicerídeos devem ser anuais, a fim de contribuir para a prevenção do infarto. Hoje, as doenças do coração fazem 300 mil vítimas ao ano, sendo metade mulheres.

Exame de eletrocardiograma

Para quem não tem histórico familiar, pode começar a fazer parte da bateria de exames anuais a partir dos 50 anos. Dependendo das orientações do médico cardiologista, o eletrocardiograma deverá ser acompanhado dos exames abaixo.

Teste ergométrico

Também chamado de teste de esforço, esse tipo de eletrocardiograma é utilizado como rastreador de alterações do ritmo cardíaco durante o esforço físico, frequentemente associadas à doença arterial coronariana e à angina, uma vez que muitos desses pacientes apresentam resultado normal no eletrocardiograma em repouso.

Ecodopplercardiograma

Trata-se de um exame de ultrassom do coração que permite checar a anatomia do órgão, suas dimensões e a função de inúmeras estruturas cardíacas, assim como o fluxo sanguíneo. Com esse exame é possível diagnosticar alterações relacionadas à hipertensão arterial, coronariopatias (artérias), miocardiopatias (músculo cardíaco) e disfunções nas válvulas do coração, por exemplo.

Autoexame da pele

O câncer de pele não melanoma é o tipo da doença que mais acomete homens e mulheres no Brasil. Somente neste ano, mais de 60 mil mulheres serão diagnosticadas com a doença, embora apenas uma parcela ínfima vá apresentar o tipo mais agressivo. O uso diário de protetor solar e autoexame ainda são os melhores amigos das mulheres, que devem estar sempre atentas à presença de manchas disformes, pintas escuras ou malcheirosas. Em caso de dúvida, é sempre recomendável consultar um dermatologista. É comum os médicos encaminharem material para biópsia, a fim de fazer um diagnóstico o mais preciso possível.

Você cuidou de sua saúde, agora não esqueça de cuidar de sua aparência. Com alguns cuidados básicos você pode manter sua pele jovem e saudável.

Você mulher! Vale a pena investir em você mesma!

Dra. Maria Thereza Natel
Médica radiologista do Centro de Diagnósticos Brasil (CDB) em São Paulo









"Às vezes, a melhor ajuda que conseguimos obter é um bom e firme empurrão."
(Joann Thomas)