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segunda-feira, 18 de abril de 2011

Apêndice: Rua sem saída


Essa comparação cai como uma luva para o órgão, um tubo aparentemente sem função que se situa no começo do intestino grosso. Mas, quando ele se torna refém de uma inflamação, a única solução é extirpá-lo.

Imagine-se comprando um carro zero. O vendedor oferece mais um acessório. Você, atento, pergunta a ele qual seria sua utilidade. “Serve para dar defeito”, responderia um lunático a fim de perder o emprego. Nenhum comprador em sã consciência levaria o veículo, mas, quando se trata da montagem do nosso corpo, não há escolha. A gente já sai de fábrica, por assim dizer, com um adicional que, em algum momento da vida, pode ser alvo de uma infecção capaz de provocar uma dor de lascar. Trata-se do apêndice. “E ele só serve para dar apendicite”, afi rma categórico o gastroenterologista Rogério Toledo Júnior, da Federação Brasileira de Gastroenterologia.

Localizado no início do intestino grosso, o apêndice não está na rota do processo digestivo. Mas, quando alguma coisa perde o rumo, entra e não consegue sair dali, começam os problemas. “Cerca de 60% dos casos de apendicite são provocados por fecalitos”, explica Gustavo Ribeiro de Oliveira, cirurgião gastrointestinal da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto, no interior paulista. E um fecalito nada mais é que uma porção endurecida de fezes, do tamanho de um feijão, que bloqueia o trânsito no anexo intestinal aparentemente sem função.

Aí, para complicar o quadro, um processo inflamatório na área estimula a produção de folículos linfáticos, armas disparadas pelas defesas do corpo que contribuem para fechar de vez qualquer saída dali. Entupido, o pequeno órgão com formato de minhoca, que costuma ter até 1 centímetro de espessura e de 5 a 10 centímetros de comprimento, começa a inchar e a juntar pus (veja o infográfico nos complementos desta matéria). Uma dor na região do abdômen surge e aumenta a cada instante. Se nada for feito, o apêndice poderá necrosar, romper-se e espalhar seu conteúdo purulento por toda a cavidade abdominal — uma situação gravíssima capaz até de levar à morte. É por isso que a doença, que acomete 8% da população, deve ser tratada de imediato. Quanto antes for feito o diagnóstico, menores serão os riscos de complicações.

Os sintomas da apendicite podem ser confundidos com os de outras doenças, especialmente nas mulheres. Nelas, dores no lado direito do corpo muitas vezes indicam um cisto no ovário que se rompeu ou uma infecção nas trompas. Por isso, além do relato do paciente, os especialistas diagnosticam a amolação por meio de um exame físico. Em caso de dúvida, recorre-se ao auxílio de exames de sangue, ultrassonografia, tomografia computadorizada e até mesmo ressonância magnética.

Por Alexandre Gajardoni

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